Caminhar em Amarante é muito mais do que um conjunto de passos que nos transportam no percurso escolhido. É caminhar nas palavras de Pascoaes e na sua inspiração dos sopros das montanhas e da melancolia das águas do Tâmega, é enriquecer a alma pelo encanto desta cidade em cada canto e recanto.
O início do percurso escolhido para o dia 16 de setembro mostra-nos, logo no primeiro instante, essa imponente imagem da ponte que nos transporta pela história até ao episódio heróico da resistência à invasão francesa.
E sob a ponte, o rio que mantém a intimidade e foi fonte de inspiração para ilustres escritores amarantinos como Teixeira de Pascoaes ou Agustina Bessa-Luís. Lá, as embarcações de recreio deslizam pelas águas calmas nesta época do ano, cruzando os arcos da ponte e fazendo ecoar a magia das bucólicas margens. Também nós caminharemos ao longo das margens envolvidos em sons, aromas e olhares que em nenhum momento deixam de prender a nossa atenção.
Ainda nos primeiros momentos da caminhada, se voltarmos o olhar para o lado esquerdo, encontramos a Ínsua dos Frades, um verdadeiro paraíso de biodiversidade.
E nesse sentido continuaremos, caminhado ao som das águas até às azenhas. Havemos de aqui voltar, já quase no final da caminhada deste dia para podermos apreciá-las com a dignidade que merecem. Mas antes, percorremos trilhos de paisagens entre o rio e a serra. Pelo percurso, ainda nos cruzamos com a agitação do parque aquático. Quando já tivermos percorrido um pouco da história ferroviária, voltamos ao encontro das margens do Tâmega, acompanhando-nos agora à direita e convidando a percorrer o Trilho das Azenhas.
Inaugurado em 2022, este trilho testemunha uma imensa biodiversidade e é acompanhado, na sua totalidade, pelo rio que convive em harmonia com a imensa vegetação das suas margens. Já no final do trilho, encontramos um magnífico conjunto de azenhas. Vale a pena fotografar e deixar levar a nossa imaginação para as tantas histórias que hão de ter marcado a vida de cada pedra.
Estamos quase no final, mas, antes, há que atravessar o rio pelas poldras, também recuperadas recentemente, e que nos encaminham até ao parque florestal. Nesta passagem é obrigatório virar o olhar para o lado esquerdo para nos voltarmos a render à imagem da Ponte de S. Gonçalo, agora numa outra perspetiva. Será difícil decidir qual das imagens merece a nossa preferência. Se aquela que nos prendeu o olhar no início ou a perspetiva que agora nos surpreende. Uma breve visita ao Parque Florestal - que outrora era um local de passeio obrigatório das famílias, propiciando verdadeiras aulas de campo com a sua biodiversidade - antecede o curto trajeto pela margem que nos leva ao centro histórico.
Será altura, certamente, para aproveitar uma das esplanadas sobre o rio, descobrindo as doces iguarias conventuais ou, encontrar propostas de vinho verde e fumados da região.
Se a decisão for atravessar desde logo a ponte, merece uma visita a igreja de S. Gonçalo e, quem sabe, uma paragem no Café-bar, um dos locais de eleição de Pascoaes para a escrita.
É junto à estátua do escritor que estamos prestes a terminar a nossa caminhada, local onde também é possível descobrir o Museu Amadeu de Souza-Cardoso, pintor amarantino de traço modernista que guardava as tradições e desfrutava das cores intensas do campo que apreciava durante os seus passeios ar cavalo pela serra do Marão.
“Fim - o que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa.” Agustina Bessa-Luís